quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cuspir o coração...

Nicole Kidman

Eu sinto que se avizinha uma batalha comigo mesma, sinto que não te devia ter deixado entrar sem pedir uma contra-senha... sinto que das tuas migalhas fiz pães, acreditando que havia em ti muito para dar, fui-me convencendo que eras mais fechado, que estavas torturado por um passado recente, uma ferida dolorosa...
Via-te como uma rosa fechada que a seu tempo soltaria as pétalas, enganei-me a mim mesma, contrariando todo e qualquer conselho ou tentativa de oferta de lucidez!

Hoje sei, eu não queria ouvir, não queria pensar, queria sentir e sonhar...convenci-me que viver é assim ... Sentir, sem me proteger, sem me travar... ás vezes, poucas vezes, ou pelo menos não tantas como seria necessário eu previ a chegada a onde agora me encontro, ao sofrimento, á perda do amor próprio, da alegria e da vontade!
Ignorei avisos, ignorei suposições, hipóteses e ouvi a voz do coração...

Nunca percebi porque é que ele te escolheu, porque é que depois de tão longo período sem paixão, sem entusiasmos grandes ou pequenos, ele me levou ao encontros dos teus passos...
Esses passos que já vinham na minha direcção, e é isso que eu não te perdoou, sabias que não estavas bem... Quem pode estar bem depois de um casamento relâmpago e um inconsumado divórcio que, nem sei bem porquê, se arrastou até aqui?

Tenho andado ligada a ti, mas a fazer o possível para me desligar, desta vez é diferente, desta vez o plano é o impossível, fugir de onde te posso encontrar, prender a minha vontade incontrolável de mais um olhar... tou cansada e preciso pegar na dignidade que me resta para colar os cacos da tua passagem tempestiva pela minha vida!

Nunca te vi como um homem casado, quando te conheci já a separação tinha meses e meses, já se tinham multiplicado alguns casos de uma noite e depois apareci eu...
E tu soubes-te assim que trocamos as primeiras palavras, depois de longos meses dos teus olhares insistentes, de uma ou outra tentativa de aproximação, que não estavas perante alguém que pudesse viver algo sem querer sentir as pequenas e grandes magias de uma história a dois....

Passou-se este tempo e nunca soube quem ela era, a mulher que tinhas escolhido para passar o resto da vida, e se calhar é mesmo isso, o resto da vida foram aqueles meses e agora só sobrevives agarrado á frustração de ser sido mais um a falhar...

Só agora ela ganhou rosto e forma... Só agora ,dentro mim, ela existe!
Eu não consigo qualificar o que sinto, não há comparações, nem suposições, não há nada a não ser a realidade de que ela existe... e eu quase que sinto que ela é mais real neste mundo do que eu, eu que para me lembrar de ti, fui sem ter consciência, esquecendo-me de mim...

Agora já não consigo tentar lembrar-te que a vida é linda, que tu és um ser fantástico se não te escudares em pessimismos e apenas abrires o teu sorriso para o mundo.
Já não aguento ser a bengala de um velho frustrado que de vez em quando a joga para longe, convencido de que sem ela caminha melhor e que ela vai ser uma bengala mais útil nas mãos de outro alguém que a saiba cuidar e acarinhar...

Tou cansada e queria cuspir o meu coração, neste preciso momento, só para te poder apagar de mim...

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